Mikaelli Andrade

Mikaelli Andrade
Cachoeira Brejão/Coribe-Ba
”A água é o sangue da terra. Insubstituível. Nada é mais suave e ,no entanto , nada a ela resiste. Aquele que conhece seus princípios pode agir corretamente, Tomando-a como chave e exemplo. Quando a água é pura, o coração do povo é forte. Quando a água é suficiente,o coração do povo é tranquilo.” Filósofo Chinês no século 4 A.C

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"As preocupações ambientais contemporâneas originaram-se da percepção da pressão sobre os recursos naturais causadas pelo crescimento populacional e pela disseminação do modelo da sociedade de consumo"

segunda-feira, 15 de março de 2010

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O cerrado pede socorro À sociedade brasileira

Qui, 04 de Fevereiro de 2010 08:45 Redação

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Estivemos reunidos de 4 a 10 de janeiro de 2010, 180 pessoas de oito estados brasileiros participando do 21º Curso de Verão de Goiânia, na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia. Uma rica experiência de formação popular no campo sócio-cultural e religioso, a partir da realidade e dos seus desafios, à luz da Bíblia e da Teologia. Um espaço ecumênico e inter-religioso de convivência, partilha, troca de experiências, celebração e compromisso destinado a lideranças de movimentos populares e animadores e animadoras de Comunidades Eclesiais, comprometidos com a transformação social, na busca do Reino de Deus.

Neste ano a temática do Curso foi o Cerrado: “Cerrado, da Resistência Brota a Vida”, com a assessoria do Prof. Dr. Altair Sales Barbosa, antropólogo e arqueólogo, da Universidade Católica de Goiás, criador do Instituto do Trópico Subsumido, do qual faz parte o Memorial do Cerrado, e do Dr. Alessandro Galazzi, teólogo e biblista, da CPT do Amapá. Num profundo diálogo entre os dois assessores, pudemos conhecer um pouco mais da Terra em que vivemos e do projeto de Deus sobre a Terra e a vida da humanidade.

Conhecemos que o Cerrado é o sistema biogeográfico mais antigo do planeta com 65 milhões de anos e onde se desenvolveu uma vegetação toda peculiar, uma verdadeira floresta de cabeça para baixo, com dois terços subterrâneos, e que forma um sistema radicular único com uma das mais ricas biodiversidades da Terra.

Aprendemos que este tipo de formação vegetal, sobre um solo de arenito, é responsável por reter 70% das águas das chuvas que alimentam o lençol freático e que, ao longo dos milênios, propiciaram a formação dos maiores aqüíferos do mundo. Destes aqüíferos brotam as nascentes do rio São Francisco e da maior parte dos seus afluentes, as nascentes de grande parte dos rios que formam a bacia Paraná - Prata, e nascentes de rios da bacia Amazônica, como o Araguaia e Tocantins, o Teles Pires e o Madeira.
Estudamos, também, como os primeiros homens e mulheres que chegaram ao território brasileiro encontraram no Cerrado um paraíso de fartura de frutas e animais e aqui desenvolveram suas culturas, que nos influenciam até hoje.

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Mas ao mesmo tempo conhecemos como, com a chegada dos bandeirantes à procura do ouro e de escravos, o equilíbrio e harmonia existentes foram violentamente rompidos. Esta violência que durou cinco séculos se tornou mais cruel nas últimas décadas com a ocupação daquela que era chamada a última fronteira agrícola do planeta. A transformação do Cerrado em grande produtor de gado, de grãos e, mais recentemente, de cana para produção de açúcar e álcool, provocaram a destruição e a devastação ambiental numa intensidade e velocidade nunca antes vista, sem levar em conta o valor e a grande riqueza e diversidade de fauna e flora do bioma.

A insanidade da ocupação irracional do Cerrado já começa a apresentar suas graves conseqüências. Centenas de nascentes de água, córregos e rios de médio porte que fluíam regularmente durante o ano todo já secaram e outros estão secando. As populações indígenas que ainda sobrevivem estão sendo cada vez mais pressionadas pelo avanço do agro negócio e pela política irresponsável do poder público. Sobretudo no Mato Grosso do Sul, os índios foram espremidos em áreas que não lhes garantem a sobrevivência e, em Goiás, hoje, sobrevivem somente três pequenos grupos indígenas. As comunidades sertanejas diminuíram drasticamente e suas populações estão inflando as periferias pobres das grandes cidades.
Diante deste quadro desolador queremos manifestar nossa profunda indignação com o descaso das autoridades frente a esta realidade, sobretudo com o decreto, firmado duas semanas atrás, que fragiliza a FUNAI e coloca os índios em grave situação de risco.

É um decreto ilegítimo uma vez que as populações indígenas nem sequer foram consultadas.
Para garantir a sobrevivência de nossos rios e o próprio equilíbrio do planeta precisam ser tomadas medidas imediatas e firmes que visem conter o avanço da devastação. Ainda é tempo. Contudo, se a lógica capitalista for mantida, colocando a exploração econômica acima da defesa da natureza e dos direitos da vida, em pouco tempo estaremos lamentando a loucura que as pessoas desta nossa época praticaram.
A palavra de Deus iluminou nossas reflexões e nos fez recordar os valores que, de geração em geração, precisamos viver e proclamar. A natureza não é matéria prima para o enriquecimento de alguns; a natureza é vida, é mãe, é presença vivificadora de um Deus que nos ama e quer que todos gozemos dos bens que ele nos deu. Legitimar, com a Palavra de Deus, a devastação ambiental, será sempre uma verdadeira blasfêmia.

A Bíblia nos ensinou que a propriedade, por ser direito, deve ser de todos e para todos. Se não for de todos, não é direito, é abuso, é violência, é opressão. E descobrimos que não podemos esperar por salvadores da pátria, mas que cada um e cada uma de nós deve, com a força que nos vem de Deus e da nossa união enfrentar, sem medo, os “faraós” que hoje fazem gritar nosso povo.
Por isso exigimos do poder executivo a definição imediata de medidas que contenham a veloz destruição do nosso bioma e, do Congresso Nacional, a imediata votação da PEC 115/150 que inclui o Cerrado e Caatinga como Patrimônio Nacional.
Sentindo-nos corresponsáveis pela nossa história e pela vida de nosso planeta, conclamamos a toda a sociedade a mudar seus hábitos de consumo, que no fim das contas, são os estimuladores da depredação ambiental. Um estilo de vida simples e austero, sem ceder aos grandes apelos de consumo, é essencial para reverter o processo de poluição e devastação.

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© 2010 Jornal do São Francisco:

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